SÃO LUÍS - De quanto espaço alguém precisa para morar bem? Muitos
certamente responderão essa pergunta dizendo que não é preciso muito
para ser feliz e, portanto, uma casa ou apartamento pequenos bastariam.
Mas existe uma construção em São Luís que, de tão estreita, chama a
atenção e faz questionar como alguém consegue viver em um espaço tão
limitado. Trata-se de uma residência localizada na Avenida Senador
Vitorino Freire, no bairro da Madre-Deus. A casa foi construída em cima
de uma borracharia há oito anos e, na parte mais estreita, não possui
mais que 80 centímetros de largura.
Os atuais moradores, o casal Vera Lúcia Bezerra e
Wendel Ramos, já estão estabelecidos no local há um ano e, apesar do
pouco espaço, dizem que gostam de viver ali. "Antes, a gente morava num
lugar muito perigoso, e era muita humilhação. Mas, graças a Deus, agora a
gente é feliz aqui", diz Vera Lúcia. A moradora defende, ainda, que é
possível encontrar a felicidade mesmo nas condições em que o casal se
encontra: ela, sofrendo de cálculo renal e desempregada há quatro meses;
ele, sem um emprego formal há mais de 10 anos e fazendo apenas 'bicos'
como pedreiro. Ambos vieram do interior do Estado ainda jovens e já
viveram em lugares maiores, mas garantem que hoje moram muito melhor na
casa estreita do que em suas antigas residências.
Quem,
no entanto, faz uma visita a Vera Lúcia e Wendel, logo percebe que as
restrições do casal vão bem além do espaço, já que eles não têm dinheiro
para comprar sequer um fogão, uma geladeira ou uma cama. Na casa, há
apenas um banheiro e um quarto, onde cabem somente um colchão de casal,
uma rede e um pequeno armário. Para se ter uma ideia das proporções da
construção, a parte mais larga não consegue comportar nada além do
armário e do colchão. Ainda assim, o aluguel da residência custa R$200.
O proprietário da casa, Edmilson Santos, é, também, o
dono da borracharia que funciona no andar térreo. Ele garante que a obra
é segura, porque os muros têm estrutura reforçada. Entretanto, admite
que a construção foi projetada sem a supervisão de um engenheiro. E a
falta de um acompanhamento técnico pode pôr em risco tanto os moradores,
quanto as pessoas que circulam nas proximidades da obra. No caso
específico da casa estreita da Madre-Deus, alguns problemas são
evidentes.
Segurança
Segundo
o engenheiro civil Jorge Creso, professor do departamento de Engenharia
das Construções e Estruturas da Universidade Estadual do Maranhão
(Uema), uma das irregularidades visíveis é o fato de o imóvel estar
localizado sobre o passeio público, uma vez que existem afastamentos
mínimos do eixo da rua que devem ser cumpridos. Outro problema apontado
por ele é a escada de acesso à casa, que fica no meio da calçada,
obrigando os pedestres a transitar pela rua para desviar do obstáculo.
Quanto à durabilidade da construção, o engenheiro diz que seria
necessária uma análise técnica mais aprofundada para dizer quanto tempo a
casa continuará firme sobre o muro.
"Uma
residência deve atender a normas arquitetônicas, tendo espaços mínimos
pré-definidos para seus cômodos, buscando não somente dar conforto aos
usuários, mas permitir condições de saúde e salubridade aos ocupantes.
Espaços muito pequenos podem levar os ocupantes a doenças, inclusive
psicológicas", conclui Jorge Creso.
Sendo
a obra segura ou não, o fato é que a casa virou atração na cidade,
despertando o interesse de muitos curiosos, entre ludovicenses e
turistas, que vão constantemente ao local para tirar fotos e fazer
perguntas. Muitos deles acreditando estar diante da casa mais estreita
da cidade.
DO IMIRANTE